
DIA DA PÁTRIA GALEGA – SANTIAGO, 25 DE JULHO DE 2019
- 22/10/2019
- Artigos de opinión
DIA DA PÁTRIA GALEGA – SANTIAGO, 25 DE JULHO DE 2019
Bo día a todos.
Primeiro de todo, quero agradecervos, tanto persoalmente como institucionalmente, a invitación do Compromiso de Galicia ao Partido Demócrata Republicano Portugués (PDR) e dicir que con gran pracer celebro, por primeira vez, o Día de Galicia ou Día da Patria Galega e espero que non sexa a última.
Agora que vos saudei em galego, ou pelo menos tentei... espero não o ter assassinado, vou dirigir-me a todos vós na minha língua materna, ou melhor dizendo, na de todos nós.
Bom dia a todos.
Antes de mais quero agradecer, tanto a nível pessoal como institucional, o convite endereçado pelo Compromisso Por Galiza ao PDR – Partido Democrático Republicano Português – e dizer-lhes que é com o maior prazer que celebro, pela primeira vez, o Dia de Galiza ou Dia da Pátria Galega, e que espero não seja a última.
Certamente a minha intervenção será a menos política de todas as de hoje, mas quando me disseram para preparar umas palavras, pensei… e agora o que vou dizer, estando eu de férias na Corunha e sem meios para me documentar?
Pois bem, enquanto dava voltas à cabeça ocorreu-me que eu sou o exemplo levado ao extremo das relações entre Galiza e Portugal.
Há alguns anos, não sei precisar quantos, num spot publicitário, a meu ver muito bem conseguido, em que se promovia o incomparável MEXILHÃO GALEGO, aparecia a frase ENAMORA-TE DE UM GALEGO!
Tal como o dilema do ovo e da galinha, não sei de quem me enamorei primeiro, se do mexilhão ou do galego, mas o certo é que continuo enamorada dos dois e ambos são responsáveis de que eu diga que a Galiza é a minha segunda Pátria.
Na verdade, é tanto o que nos une, refiro-me a Galiza e Portugal, que com as suas quatro províncias - Corunha, Lugo, Ourense e Pontevedra - e ainda alguns concelhos integrados na vizinha Astúrias, a Galiza constitui com Portugal a mesma unidade geográfica, cultural e linguística, o que as tornam numa única nação, embora ainda por concretizar a sua unidade política.
Entre ambas existe uma homogeneidade que vai desde a cultura megalítica e da tradição céltica à vetusta Gallaécia e ao conventus bracarensis, passando pelo reino suevo, a lírica galaico-portuguesa, o condado portucalense e as sucessivas alianças com os reis portugueses, as raízes étnicas e, sobretudo, o idioma que nos é comum - a língua portuguesa. Ramon Otero Pedrayo, considerado um dos maiores escritores do reintegracionismo galego, afirmou um dia na sua qualidade de deputado do parlamento espanhol que "a Galiza, tanto etnográfica como geograficamente e desde o aspecto linguístico, é um prolongamento de Portugal; ou Portugal um prolongamento da Galiza, tanto faz". Teixeira de Pascoaes foi ainda mais longe quando disse que "...a Galiza é um bocado de Portugal sob as patas do leão de Castela".
A história comum entre a Galiza e Portugal fez com que os seus povos adquirissem uma cultura muito semelhante que pode ser comprovada nas suas tradições, no folclore, na língua, na gastronomia e até nas suas aldeias, vilas e cidades.
Não é por acaso que Luís Vaz de Camões, justamente considerado o nosso maior poeta, tem as suas raízes na Galiza, pois era neto de um galego que fugiu da Galiza para Portugal, por ser partidário da incorporação da Galiza no legítimo reino de Portugal, frente aos interesses do rei de Castela que a tinha submetida. Também não é sem sentido que o grande Fernando Pessoa que defendeu abertamente a "anexação da Galiza", afirmasse "A minha Pátria é a Língua Portuguesa".
Aliás, como se concluiu no III Congresso de Estudos Internacionais da Galiza, subordinado ao tema “Galiza e a Lusofonia perante os desafios globais”, realizado em Pontevedra a 27 e 28 de Março do corrente ano, e que teve como contexto o quinto aniversário da Lei «Paz-Andrade», Lei do Parlamento da Galiza 1/2014 de 24 de Março para o Aproveitamento da Língua Portuguesa e Vínculos com a Lusofonia, como oportunidade para avaliar o seu desenvolvimento e seus significados, valorizando as suas possibilidades de futuro, as relações históricas da Galiza com Portugal e os territórios intercontinentais de língua oficial portuguesa, situam a Galiza ante uma oportunidade histórica para a diplomacia e ação internacional galega.
Concluíram ainda que as sensações de sucesso e fracasso em torno dos passos da Galiza para o encontro com o mundo da língua oficial portuguesa são coexistentes.
Nesse sentido entendem que a introdução generalizada da língua portuguesa no ensino na Galiza ou o eventual ingresso da Galiza na Comunidade de Países de Língua Portuguesa, designada por CPLP, representam desafios imediatos e os pontos de partida estruturais para dotar a Lei de um desenvolvimento próprio, que transcenda o simbólico e que aspire a mobilizar a sociedade galega e os seus agentes económicos e socioculturais mais dinâmicos.
Actualmente, mais de 250 milhões de pessoas falam português em todo o mundo. Até 2050, estima-se que os países africanos de língua oficial portuguesa cheguem aos 400 milhões de habitantes, ultrapassando o Brasil, como o continente com o maior número de falantes de português. A Galiza não pode deixar de aproveitar esta oportunidade de exercer como galegos na sociedade global actual, mas isso obriga-vos a tomar medidas urgentes para materializar essas vantagens antes que seja tarde demais.
Não tenho dúvidas que o conseguirão!
Em tudo na vida, sempre considerei que nada acontece por acaso.
Tal como na história comum entre Galiza e Portugal, quis o destino que a minha curta trajectória política se cruzasse com a nossa amada Galiza.
Partilhando dos mesmos ideais e de preocupações comuns, o PDR – Partido Democrático Republicano Português, o Partido Galeguista Compromisso por Galiza e o PNV de Euskadi integram os parceiros do Partido Democrático Europeu e juntaram-se para a apresentação do Manifesto por uma refundação da União Europeia.
Tal como outrora, os desafios que temos pela frente e que são comuns a Portugal e Galiza, tais como o envelhecimento populacional, o despovoamento, a imigração ou as alterações climáticas, necessitam de medidas concertadas e de um esforço adicional da União Europeia.
Obviamente que unidos somos mais fortes e temos mais peso para negociar junto da U.E.
Oxalá, num futuro próximo, os cerca de 13 milhões de habitantes de Portugal e Galiza celebremos, além do 10 de junho e do 25 de julho, o dia de Portugaliza!
Por fim, não poderia terminar sem fazer uma referência a Eduardo Pondal, autor do hino galego e um defensor acérrimo da união entre galegos e portugueses que nos transmite nos seus versos uma série de apelos para reconhecer-nos na pátria comum e unificar-nos na língua, além de reverenciar Camões com entusiasmo libertador.
A Pondal presto a minha homenagem nos seguintes versos:
“Sim… dos filhos do Luso, que apartados estão
por real estultícia da gloriosa mãe,
o pastor, bom e forte, algum dia serás
que a tribo vagarosa ao deixado clã,
o descarrilado gado que agora errando está,
ao redil antigo gloriosa volverás”
“Da Lusitânia a voz os esforçados peitos;
do robusto Camões, os sublimes afeitos.
Dum destino glorioso certamente:
da boa Lusitânia da voz e dos feitos famosos;
da Galiza a musa ardente”.
Muito obrigada e VIVA A GALIZA!
Amélia Ribero
PARDIDO DEMOCRÁTICO REPUBLICANO DE PORTUGAL